Você resolve voltar para André. É isso. Era o melhor jeito de conseguir ver a Sol novamente. Ninguém te dava uma saída melhor. Era melhor aguentá-lo enquanto ela ainda era pequena e depois daria um jeito. Como é que ia arranjar casa, trabalho, se cuidar? Quem iria contratá-la? Ia acabar naquelas vagas que você faz faxina 20 horas por dia, chega em casa “morta” e o salário não paga nem a condução. Nunca iria conseguir pagar aluguel assim. Você reúne suas forças e vai até a casa onde moravam. Você bate na porta, não sabe se está com medo, se está feliz por ver a Sol. Você não sabe o que pode te acontecer.
André abre a porta. Ele te recebe como se nada tivesse acontecido alguns meses antes. É verdade que você está bem, sóbria. Talvez ele note isso. Você vê a Sol e sua vida fica plena novamente. Você não vai abrir mão disso, você vai conseguir dessa vez.
Depois que a pequena dorme, você pergunta para André se vocês podem tentar de novo e ele diz que sim. Que se você estivesse mudada, ele a aceitaria. Mas precisaria reconhecer que não estava cuidando direito da Sol, que não estava sendo uma boa esposa. Você diz que era tudo verdade, você chora muito, mas talvez não por isso. Ele te trata de maneira carinhosa.
Você iria dormir de novo na sua casa, isso parecia até um sonho. André começa a beber, te oferece uma cerveja, você não aceita. Ele toma muitas. No final da noite, já está te perguntando com quantos caras você teria se envolvido nesse tempo em que esteve “desaparecida”, que ele era muito bom de te aceitar de volta. Que deveriam dizer na rua que ela tinha tido um surto, que estava em uma casa de gente louca todo este tempo.
Você concorda. Ao menos ele não estava te batendo.
Amanhã seria outro dia, um dia muito melhor sob um teto e junto de sua filha.