Saindo da Defensoria, não te resta muita alternativa. Você vai em uma boca de rango ali perto, e consegue almoçar. Você resolve dormir perto do CAPS, para manter o acompanhamento. A vontade de beber está grande, ainda mais com toda essa frustração. Você está com seus documentos e suas coisas, e vai dormir abraçada todo dia nos seus documentos e no seu papel da Defensoria. Rever sua filha dependia disso.
Como você está ansiosa e tem medo que eles não te achem caso você seja chamada para alguma audiência, você vai todo dia na defensoria para saber se seu caso andou. Mas ele nunca andou. Você segue com o tratamento no CAPS e eles acabam te colocando em outra vaga dessas pernoite, em um lugar mais longe. Dessa vez você já aprendeu. Vai baixar a cabeça e não vai ver mais nada de errado. Nem ninguém. Vai esperar sua vez e ver se consegue ver sua filha de volta.
Já passaram dois meses e ainda não teve audiência de nada. Você está na fila da moradia, não conseguiu nenhum trabalho. Você se sente um pouco dopada com os remédios que está tomando, também não sabe se conseguiria trabalhar. Você não vê saída, mas também não sabe o que fazer. Em muitos dias, a vontade de beber é muito grande, você acha que vai desistir de tudo, mas ainda se apega na ideia de rever Sol.
Você sabe que o pessoal te desliga após 6 meses de acolhimento. Falam que é para você buscar a sua autonomia. Você não sabe o que acontecerá com seu futuro, mas vai seguir tentando um trabalho e ficar sem beber. E esperar o dia de poder rever sua filha.