Você acorda na rua sem saber o que fazer. Parece que voltou à estaca zero. O atendimento que você tentou não trouxe os resultados que você esperava. Caberia a você reclamar para alguém? Alguém acreditaria que aquilo que você viveu era algum tipo de violação aos seus direitos? Talvez não…
Você começa a rever seus últimos passos e lembra dos motivos que te levaram a buscar o centro de acolhida, Mônica, o CAPS, a Defensoria. Rever sua filha, reorganizar sua vida, ter um lar novamente. Se tivesse ficado quieta na rua não teria sido humilhada novamente. Isso estava fazendo sentido?
Você se pergunta tudo isso e volta a caminhar no sentido do Núcleo de Convivência, parece que esse é o melhor jeito de resolver as coisas agora. Buscar a sua vaga novamente, continuar dali de onde parou. Chegando lá, depois de um dia inteiro caminhando, e com fome, quem te atende é um homem que você já tinha visto por lá outras vezes. Ele pergunta por que você não tinha aparecido na noite anterior, se tinha o compromisso de comparecer para aquela vaga de pernoite. Você explica que não sabe o que aconteceu, que saiu do atendimento muito abalada, que se perdeu, ficou confusa e acabou dormindo na rua. Ele te responde de um jeito estranho, fala que “isso que dá usar tanta droga”, e que “da próxima vez, não vai ter vaga para você”.
Você acha muito estranho ele falar daquele jeito com você, mas parece que já está se acostumando. Você abaixa sua cabeça, pega suas poucas coisas e vai para o refeitório, banho e cama. Muitas mulheres, muito barulho, algumas brigas. Esse é o cotidiano deste espaço, e amanhã será um novo dia para se organizar e lutar por sua filha.
Você adormece e, apesar de tudo, decide ir fazer seus documentos no Poupatempo no dia seguinte.