Carta

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Você decide ir até a Defensoria Pública, afinal, você não vai conseguir resolver tudo, e o caminho que Mônica te apresentou parece longo demais até rever sua filha. Documentos, ficar sóbria, para então ir até a Defensoria parecia muita coisa difícil de alcançar em pouco tempo. Sua filha estava crescendo longe de você, e o André era um bom pai por enquanto. Mas e quando ela crescesse? A trataria como tratava você? Fora isso, o lugar da criança é com sua mãe.

O prédio da Defensoria era muito longe, e você se desloca pela cidade com um bilhete de metrô de ida e volta que você conseguiu comprar após pedir dinheiro no sinal. Mônica disse que com tempo o ideal seria alguém te acompanhar ao atendimento, mas não havia ninguém disponível e você também não queria esperar.

Ao entrar, o segurança logo te pergunta se você fez o agendamento pelo celular. Que celular? Você não sabia do que ele estava falando. Ele te explica sobre o agendamento e você fala que o seu atendimento era urgente, que precisava ser atendida. Até as coisas se esclarecerem, que você poderia ser atendida imediatamente, demoram uns 10 minutos, e você já está desgastada com a situação toda. Mas mesmo assim, aguarda ser chamada para atendimento.

Quando chega a sua vez você já está cansada e com um pouco de fome. Quando a pessoa que te atendeu perguntou o que você precisava, você começa a chorar. Não sabe por onde começar. Viveu a vida toda em abrigo, foi expulsa de casa, estava na rua, tem bebido tanto. Está com saudades da Sol, precisa vê-la o quanto antes. Quem te atende pergunta será caso de violência doméstica, de destituição do poder familiar, de reconhecimento de união estável cumulada com separação. O que será que são todas essas coisas? Você não entende nada e não consegue para de chorar.

Quem te atende chama uma outra pessoa que vem conversar com você, que fala muito difícil. Agora são duas pessoas falando com você, e você entende cada vez menos as coisas. Ele fala muitas coisas, mas a única que você entende é que sem documentação nenhuma não seria possível ingressar com nenhuma demanda na Defensoria ou no Judiciário, que isso precisaria ser resolvido antes de qualquer coisa. Você começa a ficar nervosa e quando vê está gritando com ele, falando que ele não quer te ajudar a ficar com sua filha. O homem que agora está te atendendo fala que, como não há nenhum psicólogo disponível para falar com você agora, o melhor é você ir embora e se acalmar, e voltar outro dia, antes que ele se recuse a te atender em uma próxima vez.

Quando você olha para o lado, o segurança que havia permitido a sua entrada está te acompanhando para a saída do prédio. Você grita muito do lado de fora, está muito nervosa. Xinga todo mundo, já perdeu o controle de si.

Você sai pela porta deixando seus papéis, seus encaminhamentos lá mesmo. Você se perde na volta, não consegue encontrar o abrigo, está desorientada, não sabe que horas são e se já perdeu a vaga no pernoite hoje.

Enfim, você então dorme na rua.

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